SÃO PAULO – A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou um relatório preliminar que apura as causas do blecaute da última segunda-feira (23/1). A Aneel declarou que o processo de investigação das causas do apagão que atingiu dez estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e o Distrito Federal pode resultar em penalidades à Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP) e ao Operador Nacional do Sistema (ONS).
Segundo as informações da Aneel, as duas instituições serão notificadas pela área de fiscalização da Agência e terão 15 dias, a contar do recebimento do termo de notificação, para se manifestarem sobre o ocorrido. O comunicado do órgão regulador do setor elétrico disse que se forem responsabilizados pelo problema, ONS e CTEEP poderão ser multados em até 2% de suas receitas anuais. No caso da Companhia Paulista a multa pode chegar a R$ 8 milhões. Para o ONS, o valor pode atingir R$ 3 milhões.
Aneel explica as causas do apagão e a relação dos envolvidos
No comunicado da Aneel, a Agência indica que: “a CTEEP está sendo notificada pela ruptura de um cabo na linha de transmissão que liga a usina de Ilha Solteira à subestação de Araraquara, em São Paulo, formada por dois circuitos. Numa avaliação preliminar, fiscais da Aneel constataram que o rompimento foi provocado por falta de manutenção adequada da linha e pelo funcionamento incorreto de seu sistema de proteção, o que isolaria o problema, impedindo que a falha se propagasse pelo restante do sistema.
Ficou constatado que a ruptura do cabo ocorreu em razão do afrouxamento de parafusos de fixação do espaçador, peça que separa os cabos que integram a linha. Com esse afrouxamento, houve desgaste em um dos cabos, que acabou se rompendo. Essa ruptura causou curto-circuito no Circuito 1 da linha, que foi desativada. Em conseqüência, houve sobrecarga, o que fez com que o sistema de proteção do Circuito 2 da mesma linha a desligasse automaticamente. Esse fato resultou em mais sobrecarga, gerando uma reação em cadeia no resto do sistema. No caso do ONS, a notificação ocorre por falha em seu sistema de supervisão e controle do sistema.
O problema foi agravado porque, no momento em que ocorreu a ruptura do cabo, apenas quatro das seis linhas que integram o sistema da usina de Ilha Solteira estavam em operação. Uma delas se encontrava desconectada para manutenção e a outra estava desligada por estratégia de operação do ONS. O sistema de ilhamento, que impediria que o problema se alastrasse, também não funcionou adequadamente, prejudicando principalmente os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O ONS, que naquela hora deveria agir para restabelecer o sistema, perdeu o controle momentâneo da situação, porque suas instalações também foram atingidas pelo blecaute. E os geradores de backup (reserva), que deveriam garantir o abastecimento de emergência, não entraram em funcionamento, concluiu a Agência.
A Aneel informou ainda que dará continuidade as investigações e que já recebeu os papéis de trabalho de outras duas companhias do setor, a Cesp, que controla a Usina Hidroelétrica de Ilha Solteira e os dados de Furnas. Neste caso, a Agência garante que pode abrir novos processos de penalidade contra outras empresas caso constate que também houve falha em procedimentos de operação do sistema.