SÃO PAULO – Incorporando os resultados do primeiro trimestre, os analistas do JPMorgan elevaram as estimativas de ganhos da Porto Seguro (PSSA3) para 2010 e 2011 – sem, contudo, alterar a recomendação neutra para os papéis ou o preço-alvo dos ativos para o final de 2010, que segue em R$ 19 – um upside de 1,12% sobre o fechamento desta terça-feira (8).
Segundo Saul Martinez, Mariana Barros e Frederic de Mariz, que assinam o relatório do banco norte-americano, as estimativas de lucro para 2010 foram elevadas para R$ 507 milhões – 3% acima da avaliação anterior – enquanto os ganhos projetados para 2011 aumentaram 5%, para R$ 640 milhões.
“Em 2010, a mudança deve-se especialmente ao desempenho melhor do que o esperado no primeiro trimestre, e em 2011 esperamos também margens de subscrição maiores, acomodando custos levemente menores de comissões”, explicam os analistas.
Itaú: contribuição positiva
Ainda avaliando os últimos números da companhia, os analistas do banco norte-americano afirmaram ter ficado surpresos com a contribuição dos seguros de automóveis e imóveis vindos do Itaú – resultantes da parceria firmada entre as instituições no final de 2009.
“Mais especificamente, a Isar Holding contribuiu com R$ 23 milhões e R$ 51 milhões no quarto trimestre de 2009 e primeiro trimestre de 2010, respectivamente, ou 19% e 39% dos ganhos da Porto Seguro nos períodos”, afirmam os analistas, que questionam a sustentabilidade dos resultados dos três primeiros meses deste ano, especialmente devido aos altos investimentos no trimestre.
Entretanto, eles afirmam acreditar que lucros trimestrais entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões parecem ser “sustentáveis nos próximos trimestres”, lembrando que se a empresa conseguir reprecificar a Isar e melhorar sua lucratividade, a contribuição desse negócio para o balanço da companhia só tende a aumentar com o tempo, diminuindo o impacto causado pela aquisição nos lucros por ação. O JPMorgan, contudo, mantém suas ressalvas quanto à integração, que tem desafios “significativos”, nas palavras do banco.
Cenário macro
Passando dos resultados da companhia ao cenário macro, os analistas apontam que um cenário de preços mais duro e altas da taxa básica de juro geralmente são favoráveis para o setor. “As seguradoras ganham dinheiro de duas maneiras: margens de subscrição (ou prêmios menos despesas) e resultados de investimento, que são beneficiados por uma alta da Selic”, explicam. Segundo eles, no primeiro trimestre de 2010, 70% dos prêmios líquidos recebidos (NPW, na sigla em inglês) pela Porto Seguro vieram de seguros de automóveis.
Assim, a expectativa do banco norte-americano é de um crescimento de 11,1% do NPW em 2010 e 13,4% em 2011 – ambas as projeções não incluem a Isar. Além disso, é esperada uma queda da taxa total de perdas para 57,1% em 2010 e 55,8% em 2011 (em 2009, a taxa foi de 57,5%). A taxa de gastos também deve apresentar recuo em 2010, ficando em 40,1% – em 2011, esse percentual deve avançar para 41,2%.
Ressalvas e recomendação
Apesar das perspectivas positivas, o JPMorgan se diz “desconfortável” com a falta de transparência da Porto Seguro em relação a seus ganhos com investimentos. “A empresa não revela que porção dos lucros com investimento vem de juros e qual vem de ganhos ou perdas não-realizados em seu portfólio, que é em grande parte composto por título federais”, explicam os analistas.
Segundo eles, no primeiro trimestre a empresa teve resultados de investimentos equivalentes a 127% do CDI. “Para nós, a maior parte, senão todo o montante excedente ao CDI não deve ser considerado parte dos ganhos principais de companhias de seguro”, afirmam. “Já argumentamos que resultados de investimentos ruins prejudicavam lucros que não refletiam a rentabilidade da companhia. O oposto também é verdadeiro”.
Assim, o banco optou por manter a recomendação da companhia como neutra, afirmando que há melhores cases de risco/retorno em seu universo de cobertura. “Os quatro grandes bancos que cobrimos estão sendo negociados com desconto em relação a Porto Seguro se considerarmos as estimativas de ganhos para 2011”, completam os analistas, lembrando que Itaú Unibanco (ITUB4), Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4) recebem recomendação overweight.