O presidente do Santander Brasil (SANB11), Mario Leão, defendeu que o ciclo de corte de juros, iniciado pelo Banco Central no início do mês, seja duradouro. O BC cortou a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, e sinalizou a intenção de promover novas reduções na mesma magnitude nas próximas reuniões.
“A tese pela qual juro é bom para banco não é verdade. Tem uma parte do portfólio que se beneficia sim, mas juro alto freia a economia e aumenta o custo de financiamento”, disse Leão, durante painel na Conferência Anual Santander, em São Paulo, nesta terça-feira (22).
Já Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco (ITUB4), comentou sobre o programa de renegociação de dívida do governo federal, Desenrola, e sobre o cenário de inadimplência com a medida e no cenário de corte de juros.
Ele destacou que o programa é um sucesso e muito importante, mas não pode ser algo recorrente, uma vez que isso geraria um risco moral (“moral hazard”). Ou seja, o cliente iria se endividar e ficar sempre esperando o próximo programa do gênero.
Com relação ao cenário de crédito, apontou que a inadimplência para pessoa física já está se estabilizando, sem grandes preocupações. Para grandes empresas, o indicador de atraso terá normalização, sem que haja um “credit crunch” (crise de crédito).
Na mesma linha, Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil (BBAS3), concordou com Maluhy com a ideia de que haverá uma normalização, sem que haja previsão de sobressaltos num contexto de aprovação recente de reformas, Desenrola e queda na inflação e nos juros.
Preocupações no radar
Contudo, há questões no radar. O presidente do BTG Pactual (BPAC11), Roberto Sallouti, disse que está “um pouco preocupado” com o cenário fiscal do Brasil, em sua visão muito dependente do aumento da arrecadação.
“Estou ainda um pouco preocupado com o cenário fiscal do Brasil. O governo está contando muito com incremento da arrecadação. Eu gostaria que também se focasse nos gastos”, disse Sallouti.
Sallouti afirmou ainda que o país não caminha para uma trajetória de dívida cadente, o que em algum momento terá que ser debatido pela sociedade.
Ao mesmo tempo, o presidente do BTG afirmou que a “grande ameaça” para a retomada do mercado de capitais, vista atualmente pela instituição, vem do exterior, mais especificamente dos Estados Unidos e da China.
“O que me preocupa muito hoje é o desaquecimento da China e o que está acontecendo com a taxa de juros nos EUA”, comentou.
Nas últimas semanas, uma série de dados econômicos e notícias vindas da China influenciaram negativamente os mercados globais, em meio às dificuldades do gigante asiático em reaquecer sua economia. No foco das tensões estão o setor imobiliário chinês.
No caso dos EUA, as dúvidas pairam em torno do futuro da política monetária do Federal Reserve, em um ambiente de inflação ainda acelerada.
(com Reuters)