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]]>Desde que, em 2019, o Facebook, hoje Meta, anunciou uma iniciativa para desenvolver sua stablecoin, a Libra, todos os olhos do mundo do mercado financeiro tradicional se voltaram para o tema da “tokenização” da moeda.
Inicialmente, esse nem foi o nome que usaram. Ainda há muita confusão quando vamos para taxonomia e para algumas siglas e definições. Não é preciso ir longe para notar isso, quem acompanhou as declarações de envolvidos na iniciativa do DREX no Blockchain Rio da semana passada conseguiu perceber isso claramente.
Mas aqui quero ir mais para o nível da floresta do que da árvore. Alguns ganhos da “tokenização” da moeda e, posso dizer, de ativos de modo geral, estão praticamente consolidados no mercado. Entre eles, destacaria a facilidade para automatizar processos, divisibilidade, disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por semana, transparência e auditoria das transações.
Todos esses ganhos ainda podem ser maximizados pela criação de um ambiente propenso a inovação que essa “tokenização” traz.
Muitos desses ganhos são inspirados em casos de usos que já são amplamente utilizados e testados no ambiente de DEFI. DEFI, por ser um ambiente não permissionário e fora do controle dos governos, ajuda muito que inovações sejam feitas e, no meu ver, mostram o caminho.
À medida que seus testes vão se consolidando, eles demonstram que podemos ter os mesmos casos de uso que temos hoje no mercado financeiro tradicional (tradfi), mas endereçados de maneira muito mais eficiente e trazendo os ganhos colocados acima. Aqui nem estou falando de inovações em DEFI que tragam soluções muito melhores do que tradfi e que só podem ser implementadas em blockchains ou DLTs.
Parece ser questão de tempo para que o mercado financeiro tradicional incorpore muitas dessas inovações que DEFI trouxe. E isso já me parece ser um ponto comum em grande parte das discussões.
Não há ente do mercado financeiro tradicional com quem eu tenha falado nos últimos seis meses que não entre no tema da “tokenização”. De iniciativas de stablecoins, a Bancos Centrais e suas CBDCs, passando por iniciativas focadas em auxiliar casos de uso como remessas internacionais, tudo e todos só falam sobre a “tokenização” e seus efeitos.
E, no centro dessa discussão, está o principal token desse novo ecossistema, aquele que representa a moeda que usamos.
Por moeda que usamos, entendam aqui as moedas fiduciárias: Real, Dólar, Euro, Rembini e por aí vai. São moedas emitidas por Bancos Centrais e que, tirando um ou outro ermitão que viva isolado, todos tem que conviver e utilizá-las recorrentemente em todas as interações que faça. Presenciais ou digitais. Aqui vale a constatação, e a palavra é essa mesma, de que a moeda que utilizamos hoje já está devidamente digitalizada em vários formatos, e próximo passo agora é sua “tokenização”.
Entendo “tokenização” como um token que trafegue em uma rede de Blockchain ou DLT. Isso é importante definir pois o termo “token” vem de bem antes dessas tecnologias e muitos o utilizam simplesmente como sendo a representação digital de alguma coisa. Não é disso que estou falando. “Token”, no conceito que uso aqui, é uma representação desse ativo em uma rede de Blockchain ou DLT.
Essa “tokenização” da moeda responde, em geral, por dois nomes: stablecoins ou CBDCs. Do ponto de vista da tecnologia, a diferença entre ambas é pequena. Mas, do ponto de vista do seu emissor, ela é enorme.
Stablecoins são tokens representativos de moedas fiduciárias em uma Blockchain ou DLT. Há várias formas e modelos para se garantir que essas stablecoins tenham, ou busquem, paridade com o ativo que elas representam, sendo o mais comum o de terem 100% em colateral esse ativo. USDT, USDC e várias outras seguem esse caminho. A operacionalização desse mecanismo de ter 100% de lastro para cada token emitido é feita por uma empresa privada.
No caso de uma CBDC, essa emissão do token representativo da moeda é feita pelo próprio BC.
Como os BCs tem a autonomia de emitir a própria moeda, isso já torna a CBDC melhor do que qualquer stablecoin lastreada que, para além do risco de operacionalização do colateral, tem o risco de crédito do operador, ou emissor da stablecoin.
CBDC tem lastro na confiança do Banco Central. Tal qual a moeda em si. Ao passo que as stablecoins lastreadas têm lastro na moeda emitida pelo BC. Mas, em última instancia, a confiança tem que ser depositada na entidade privada que gerencia esse lastro.
Nos últimos anos, essa disputa para ver quem tem o token de moeda instaurado tem sido enorme. Algumas soluções surgiram do lado das stablecoins, outras morreram e, hoje, temos esse modelo de 100% de colateralização presente nas duas maiores, USDT e USDC, que respondem pela parte majoritária da utilização de tokens representativos da moeda no campo de DEFI.
A USDC, especificamente por ter envolvida a Coinbase, principal exchange americana e uma das maiores do mundo, ganhou uma boa tração em 2022, mas vem perdendo volume e significância após o evento do Silicon Valley Bank (SVB). Em trajetória oposta, vem a USDT.
Muito já se especulou sobre ela ter ou não o colateral que diz ter e, nos últimos anos, a governança e transparência sobre isso vem aumentando muito.
Do ponto de vista das CBDCs, temos notícia nova toda semana e, muitas vezes, mais do que uma por semana.
Praticamente todos os BCs do mundo estão envolvidos em algum tipo de teste, piloto e/ou grupo de estudos em relação a isso. A China já tem testes sendo feitos. O Banco Central do Brasil já tem piloto do DREX andando. Austrália e Hong Kong acabaram de soltar relatórios sobre pilotos realizados. E por aí vai.
Além disso, plataformas como a SWIFT tem operado, em ambiente restrito, alguns testes com operações reais bem interessantes. Vale lembrar também do BIS, que por meio de seu Innovation Hub, tem coordenado muitos projetos que envolvem vários BCs sobre o tema da interoperabilidade e das transações transfronteiriças.
Como alguém que está acompanhando isso de perto há pelo menos cinco anos, vejo que o momento de estudos e testes em tradfin está se consolidando. Muito em breve isso tudo estará à disposição de todos. Do ponto de vista de DEFI, também há hoje uma maturidade muito maior nos protocolos e diversos casos de uso devidamente consolidados.
Estamos nos aproximando a passos largos do momento em que utilizaremos a moeda “tokenizada” de forma fácil, ágil e transparente, viabilizando a eficiência e casos de uso somente possíveis devido a isso. E o melhor: a maioria de nós talvez nem perceba isso acontecendo.
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]]>A tecnologia atual permite que funções da moeda, como as conhecemos hoje – meio de troca, reserva de valor e unidade de conta – não precisem mais ser totalmente segregadas para que elas sejam cumpridas. Isso pode trazer uma enorme transformação em todo o sistema financeiro mundial. Explico.
À medida que as moedas são representadas em blockchains (ou, usando um termo que está mais na moda, “tokenizadas”), o uso de um determinado token representativo dessa moeda que incorra em juros para o dia a dia é uma alternativa que aparece e muda muito a estrutura e alocação de recursos.
Para exemplificar, nada melhor do que um exemplo inovador e já consolidado no mundo das criptomoedas. A LIDO Finance, que hoje é a maior plataforma de staking de Ethereum, emite para cada depositante que coloque ETH em staking por meio de sua plataforma, outro token chamado stETH, que pode ser usado livremente na plataforma Ethereum.
Fazendo um paralelo simples com o mercado financeiro tradicional, é mais ou menos como se investíssemos em um fundo em reais (BRL) e esse fundo emitisse cotas (chamarei de cotaBRL) que poderiam ser negociadas livremente no mercado, servindo inclusive para pagar a conta no supermercado ou comprar um carro, por exemplo.
Esse novo token (cotaBRL) seria uma nova moeda? Qual o risco sistêmico e de crédito que ele carregaria?
Continuando com o stETH, ele é um token que é aceito em praticamente todas as plataformas de DEFI, assim como o ETH. A diferença é que, pelo mecanismo da LIDO, esse token stETH tem uma rentabilidade atrelada a ele que vem da função que o staking de ETH provê, ou seja, garantir a rede. Aqui, o risco do staking pode ser entendido como o próprio risco da rede, já que se tivermos problemas com a blockchain da Ethereum, os ETH em staking estarão no topo da fila para responder por eles.
Uma coisa que o stETH ainda não consegue cumprir (destaque para o “ainda”) é a função de pagamento das taxas de utilização da blockchain da Ethereum, mas com a abstração de contas, é uma questão de tempo até termos tal funcionalidade. Nesse sentido, em um futuro muito próximo, é possível que a imensa maioria dos ETH esteja depositada em staking em plataformas como a LIDO, e que a “moeda” de transação na rede Ethereum, possivelmente, passe a ser tokens similares ao stETH e não mais o ETH em si.
Voltando ao mercado financeiro tradicional, imagine agora um fundo administrado pelo Tesouro Nacional do Brasil, composto única e exclusivamente por seus títulos, no qual você consegue depositar Reais (BRL) e, em troca, recebe um token representativo da cota (TesBRL) que pode interagir livremente em uma rede de blockchain disponibilizada e regulada pelo Banco Central do Brasil (já ouviu falar do DREX? ).
Com o TesBRL, você poderia pagar um café, fazer compras no supermercado, comprar um imóvel, visto que ele seria amplamente aceito. Conseguiu visualizar?
Nesse cenário, tudo seria trocado por TesBRL e não mais BRL, a nossa moeda. Em termos econômicos, a TesBRL seria um passivo do Tesouro Nacional e não do BCB. E é a partir daqui que as dúvidas e perguntas se acumulam.
O Tesouro Nacional estaria emitindo diretamente moeda? Mas essa não é a função do BCB? Como separar essas duas entidades? Seria isso ainda necessário ou a tecnologia tornou essa divisão obsoleta? Como ficam as políticas monetária e fiscal? Tudo junto e misturado?
Outro aspecto dessa discussão diz respeito à enorme receita que todos os BCs incorrem por conta do monopólio da emissão de moeda, conhecido como senhoriagem no mundo econômico. Em termos simples, é a diferença entre o custo de emitir R$ 50,00 (irrisório) e o valor de face do que foi emitido. O Tesouro, em algum momento, seria capaz de emitir TesBRL sem juros e se apropriar de toda a senhoriagem referente a isso, assim como o BCB faz com o BRL?
São perguntas para os economistas responderem do ponto de vista teórico atualmente e muito provavelmente na prática nos próximos anos.
Já li alguns artigos sobre a possibilidade de termos uma CBDC de varejo que incorra em juros, e até onde conheço, esse não é o caminho de nenhum dos projetos dos BCs atualmente, principalmente pela possibilidade de disrupção do sistema financeiro atual, que é baseado em moeda fracionária e nas funções dos agentes bancários.
Um acesso digital direto da população ao Banco Central já é um tema muito discutido, mas se o BC ainda pagar juros sobre ele, isso levanta a questão de por que precisaríamos de bancos? O problema é que as funções que os bancos desempenham hoje (gestão de contas, empréstimos etc.) teriam que passar para os BCs, o que ninguém acredita que seja o caminho atualmente.
Mas o ponto que levanto aqui é outro. Não se trata de uma CBDC de varejo que pague juros. É a tokenização de um título do Tesouro que servirá como meio de pagamento, unidade de conta e reserva de valor, ou seja, moeda. Será o Tesouro o principal concorrente dos Bancos Centrais na questão da emissão de moedas? Muito mais do que os atuais projetos que tokenizam a moeda via stablecoins ou via a tokenização privada de títulos públicos? Estariam os BCs dormindo com o inimigo?
Pois é. Um texto com mais dúvidas do que respostas! Do tipo que adoro! E para continuar, nada melhor do que juntar uma turma de especialistas nesse assunto. Venha conosco continuar essa discussão na 11ª edição do Money Innovation da FinTrender na próxima segunda-feira (11).
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]]>Após duas semanas desde o anúncio do novo nome da plataforma de Real Digital, o DREX, todos ainda estão tentando entender o significado deste nome.
Ao contrário do impactante nome Pix, as incertezas geradas por esse novo termo vão além da escolha do nome em si. Será o Drex uma nova moeda digital para o Brasil? Ou é apenas o nome da plataforma? A população terá acesso ao Drex da mesma forma que tem acesso ao Pix? São essas e outras dúvidas que vou tentar esclarecer abaixo.
Antes de responder a essas perguntas, é importante ressaltar que não estou diretamente envolvido no projeto. As opiniões apresentadas aqui são baseadas em conversas, contatos e estudos que tenho realizado sobre o assunto. Agora, vamos às respostas:
O Drex será a plataforma, ou seja, é o novo nome da REDE para o Real Digital. Não se trata de uma nova moeda. Não é uma alternativa ao Pix. Não é algo completamente novo que não tenha sido previamente anunciado. É, simplesmente, uma nova plataforma.
A forma mais simples de entender isso é comparar com as diferentes maneiras de negociar a moeda que temos atualmente. Independentemente de estarmos utilizando dinheiro em espécie, depósitos bancários ou cheques, a moeda é a mesma: o Real. O que muda é o formato ou, mais precisamente, o ambiente em que essa moeda está sendo transacionada. Com o Drex, será a mesma lógica. A moeda continua sendo o Real, mas agora terá uma nova plataforma pela qual poderá circular.
Outra maneira de entender isso é usando um exemplo que envolve o Pix, que todos nós já conhecemos bem. Em uma das lives que realizo quinzenalmente no Fintrender sobre moedas, surgiu um exemplo, envolvendo a negociação de um carro, que ilustra a utilização das duas plataformas em conjunto. Vou explicar.
Imagine que a plataforma Drex já esteja funcionando e que nela haja uma representação tanto de um depósito bancário quanto do carro que estamos negociando. Através da automatização possibilitada pelos contratos inteligentes, será viável realizar uma transação trocando esses dois tokens (carro e tokenizado de Real), em que a liquidação do token do carro ocorra via Drex e a liquidação dos depósitos bancários seja feita pelo Pix.
Será esse o método mais simples e sugerido nos testes do piloto? Provavelmente não. Nos diagramas de fluxo que o piloto está planejando testar, a liquidação dos reais acontecerá por meio da queima do tokenizado de Real em uma instituição bancária ou de pagamento (usarei “IP” para simplificar), a transferência do Real Digital (CBDC de atacado) entre as IPs e a criação de um tokenizado de Real na instituição receptora dos valores. Tudo isso via Drex. Embora esse seja um caminho e, muito provavelmente, seja utilizado em todas as transações que envolvam liquidação atomizada (DVP na sigla em inglês), está longe de ser o único caminho. O exemplo acima é completamente viável.
Quanto ao acesso direto da população às funcionalidades do Drex, parece improvável no início. Ao contrário do Pix, que é uma plataforma de pagamentos instantâneos, na qual a ideia era que todos tivessem acesso e pudessem utilizá-la, no caso do Drex, será uma plataforma para a tokenização de tudo.
O Drex se tornará a infraestrutura financeira do Brasil no futuro. Assim como o STR desempenhou um papel crucial no desenvolvimento do sistema financeiro nacional, o Drex seguirá o mesmo caminho.
Como meu amigo Marcelo Deschamps disse em uma de nossas conversas, “o Drex é como um STR 2.0 usando DLT”. Embora seja uma simplificação, essa comparação é excelente porque, assim como tivemos Ted, Doc, etc., usando o STR para transações, teremos o Real Digital, Real Tokenizado, títulos públicos tokenizados, etc., no Drex. E assim como no caso do STR, apenas alguns participantes altamente especializados usarão o nome Drex.
Muito poucos de vocês que estão lendo este texto devem se lembrar ou saber sobre a implementação do STR. São outros tempos, com certeza, mas talvez toda essa divulgação e esforço em explicar um novo nome possam estar sendo mais úteis para explicar a plataforma em si, ao invés do nome.
O modelo de moeda digital que o Banco Central do Brasil está testando neste primeiro piloto, envolvendo sua moeda digital em uma plataforma DLT, é a CBDC (Moeda Digital de Banco Central) de atacado, aliada a uma stablecoin de varejo. Em termos do projeto, na plataforma Drex teremos o Real Digital, que é a CBDC de atacado, negociada exclusivamente entre o Banco Central e os bancos e agentes autorizados (IPs, por exemplo), e o Real Tokenizado, que será a tokenização dos depósitos bancários. Além disso, também circularão títulos públicos tokenizados. O DREX não muda os conceitos e nomes do Real Digital, do Real Tokenizado ou de títulos públicos tokenizados para mim; ele se limita a ser o nome da plataforma, que apenas um pequeno grupo terá acesso.
Finalmente, fazia um tempo que não via a simples mudança de nome ou criação de um nome causar tanta confusão. Isso nos leva a refletir: por quê? Talvez tivesse sido melhor manter o nome “Rede do Real Digital” ou “RD”, como muitos já estavam chamando?
Talvez, mas a essa altura Inês já é morta, como afirma o dito popular! Agora, o melhor é simplesmente repetir para todos: Drex é a plataforma (ponto!). Vamos seguir em frente e voltar a discutir os benefícios, dúvidas e preocupações que a digitalização da nossa moeda, associada à tokenização, pode trazer para todos.
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]]>The post Worldcoin: cripto, identidade e renda básica universal appeared first on dragão e tigre.
]]>Recentemente, uma iniciativa que estava relativamente inativa no mundo das criptomoedas lançou seu próprio token e imediatamente ganhou destaque, gerando diversas discussões. Estou me referindo à Worldcoin e ao seu token (WLD). Essa iniciativa une uma abordagem única de identificação pessoal no ambiente digital ao conceito de renda básica universal, ou UBI, sigla em inglês.
A Worldcoin desenvolveu um dispositivo chamado ORB que é capaz de mapear a íris dos usuários. Com isso, é criada uma identidade única (World ID) associada a uma layer 2 da rede Ethereum chamada Optimism. O processo envolve baixar o aplicativo da Worldcoin no celular, visitar um local com o ORB, escanear o olho e um QR code gerado pelo aplicativo, permitindo assim a validação da identidade no aplicativo, o que eles chamam de criação do WorldID.
Em termos de identificação pessoal, a leitura da íris é considerada uma das formas mais seguras de comprovar a identidade de alguém, muito mais confiável do que a impressão digital, que pode se deteriorar ao longo do tempo, ou o reconhecimento facial. O ORB verifica se a pessoa está viva e se não há uma íris já cadastrada. Com base nesses resultados, é possível criar o WorldID da pessoa.
Após a criação do WorldID, os usuários se tornam elegíveis para receber WLD, o token da Worldcoin. Ao se cadastrar, você recebe 25 WLD imediatamente e pode solicitar cerca de 10 WLD por semana. O limite máximo de emissão de WLD é de 10 bilhões. A distribuição inicial será por um período determinado, com a distribuição semanal diminuindo à medida que mais pessoas se cadastram, já que a quantidade de tokens é finita.
Com base no valor atual do token (US$ 2,03), o incentivo inicial para se cadastrar e validar a íris seria de cerca de US$ 51,00, o que é significativo ao compararmos com a renda de muitas pessoas ao redor do mundo. Isso sem mencionar os ganhos futuros de cerca de US$ 20,00 por semana.
É evidente que o token, inicialmente sem valor real e considerado apenas um IOU (“I owe you”, em inglês, algo como “eu devo a você”), ganha valor à medida que milhões de pessoas se cadastram e utilizam suas identidades digitais únicas para diferentes finalidades.
Contudo, em termos de preço, é provável que haja uma pressão de venda a curto prazo, já que a maioria das pessoas estará interessada em ganhos imediatos em vez de investir no futuro da iniciativa. Isso levanta a discussão clássica entre objetivos de curto e longo prazo.
Voltando ao modelo da Worldcoin, uma vez que você tenha sido identificado e validado na plataforma, você tem o direito de receber tokens de forma recorrente, algo que se assemelha muito ao conceito de renda básica universal (UBI). Esse é o cerne da Worldcoin.
Muito se fala sobre a mudança no mercado de trabalho devido à inteligência artificial, o que pode deixar muitas pessoas desempregadas. É interessante notar que o fundador da Worldcoin é Sam Altman, conhecido por estar à frente da OpenAI e criador do ChatGPT. Isso levanta a questão de se ele está desenvolvendo essa iniciativa para lidar com os desafios que a IA pode criar, como abordado no artigo de Molly White (link no final do texto).
A discussão sobre renda básica universal é ampla e parece haver consenso tanto no âmbito político quanto acadêmico de que é uma discussão importante em algum nível. O programa “Bolsa Família” é considerado uma forma de renda básica universal.
Outro aspecto da Worldcoin é a criação de uma identificação digital global única, independente de governos ou grandes empresas. Embora haja alguns casos de uso interessantes, como a capacidade de provar sua identidade digitalmente sem a necessidade de intermediários, a real necessidade disso ainda gera dúvidas. Será que apenas com a adesão de empresas e governos a Worldcoin poderá ser validada? Será que ela encontrará apoio nas comunidades mais voltadas para a liberdade individual?
Vale mencionar que a necessidade de identificação digital está cada vez mais sendo abordada por plataformas e estruturas que utilizam Zero Knowledge (ZK), requerendo interações constantes para identificar casos de venda ou roubo de identidades digitais.
Outra consideração diz respeito à coleta de dados pela Worldcoin. Embora poucos processos de validação de usuários atualmente usem a leitura da íris, não se sabe se isso poderá se tornar um padrão nos próximos anos, o que pode representar riscos caso os dados sejam vazados de startups que já possuam os dados da íris dos usuários.
A Worldcoin alega que armazena apenas o hash da íris, não a íris em si, permitindo verificar se uma íris já está cadastrada, mas não é possível recriar a íris a partir dos dados cadastrados, devido à criptografia assimétrica.
Por fim, a Worldcoin levanta pelo menos duas discussões cruciais para o cenário atual: identidade digital global e renda básica universal (UBI). Ela tem o potencial de abordar esses dois pontos? São funções mais adequadas para iniciativas privadas ou governamentais? As grandes empresas de tecnologia seguirão essa direção?
No âmbito individual, a pergunta é: você se cadastrará? Enxerga vantagens nisso? Os cerca de US$ 51,00 iniciais são suficientes para motivá-lo a experimentar? Identificou algum outro risco que não tenha sido abordado?
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Bases para a execução desse texto:
What do I think about biometric proof of personhood?
Worldcoin: a solution in search of its problem
Worldcoin says will allow companies, governments to use its ID system
Worldcoin price today, WLD to USD live price, marketcap and chart
Tokenomics
Worldcoin’s Tokenomics Shrouded in Mystery as Website is Reportedly Geo-Blocked Worldwide
Worldcoin Can Be More ‘Widely Distributed’ Than Bitcoin, CoinFund Executives Say
Worldcoin, From ChatGPT Creator, to Unveil WLD — What You Need to Know, And How to Get it
WorldCoin Attracts 2 Million Users, Hundreds Line-up To Stare at the Orb
Kenya suspends Worldcoin project over data safety concerns
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]]>The post Tokenização de imóveis appeared first on dragão e tigre.
]]>Quem me acompanha há um tempo já me ouviu falar que não vai demorar para que tudo seja “tokenizado”. Um dos setores nos quais isso pode ter um impacto importante é o setor imobiliário, que é ainda muito analógico e concentra grande parte da riqueza do mundo. Mas qual o tamanho da transformação que se aproxima? Vamos a ela.
Em uma recente live com foco em “tokenização” de imóveis, pude me atualizar sobre os últimos dois anos da Netspaces, uma startup focada no desenvolvimento de soluções via blockchain para o setor de imóveis. Um dos pontos de discussão foi como, assim que tivermos “tokenizada” a propriedade dos imóveis, isso pode alterar a forma como os empréstimos imobiliários acontecerão.
Eu sempre vi uma vantagem enorme na “tokenização” para que o imóvel pudesse ser utilizado de lastro para operações de empréstimos via token. Algo que poderia funcionar tão facilmente como usar o token como lastro em plataformas como a MakerDao para tomarmos empréstimos com base nele. Para isso, bastaria a MakerDao aceitar o token e definir os limites de crédito que aquele token poderia te fornecer.
Por exemplo, vamos dizer que um token representativo de um imóvel de R$ 500 mil poderia ser usado como lastro para uma operação de empréstimo de, no máximo, R$ 300 mil. Falando em linguagem da Maker, teríamos um token usado de lastro, que possibilitaria a montagem de uma stablecoin no valor máximo de R$ 300 mil. Claro que hoje isso ainda não é possível, mas, do ponto de vista de tecnologia, já está tudo pronto.
Durante a live que mencionei, Andreas Blazoudakis, CEO da Netspaces, trouxe outro angulo que havia passado desapercebido da minha análise: o financiamento pulverizado do imóvel.
Imagine que exista um marketplace de compradores e vendedores de imóveis. Nele, você pode fazer uma oferta para comprar os tokens que representem 50% de determinado imóvel. Em relação aos outros 50%, você entra em um contrato de pagamentos constantes por 20 anos com os detentores deles, de tal forma que, após esses pagamentos e passados os 20 anos, você se torne o dono de 100% dos tokens daquele imóvel.
Isso seria uma forma de descentralizar o mercado de financiamento imobiliário de uma forma diferente do modelo da MakerDao, no qual há emissão de uma stablecoin e sempre há o risco de você ser liquidado no seu empréstimo por conta da volatilidade no preço do token.
Outro aspecto da “tokenização” de imóveis é que, para morar no apartamento, você não necessariamente tem que deter 100% dos tokens dele. A coisa pode funcionar como a governança de empresas de forma que, quanto mais pulverizada a distribuição dos tokens for, menor o percentual deles que você necessita ter para ser a pessoa com o “controle” do imóvel. Imagine você morando em um apartamento do qual detém somente 10% e paga aluguel ou financiamento dos outros 90%?
Também há a vantagem de poder ir comprando o apartamento aos poucos. Separando um valor todo mês e ir comprando tokens do imóvel até acumular o valor necessário de tokens para ter o controle do imóvel.
Um fator incrível disso é que esses tokens podem estar em áreas geográficas muito diversas. Você poderia ter 0,5% de um apartamento em Paris, 0,4% de uma casa em Capri, 2% de um terreno no Texas, 5% de uma casa em Fernando de Noronha e por aí vai.
Vejo dois setores sendo os mais impactados nesse cenário. O primeiro é o de negociação de imóveis e aluguel. Corretoras e cartórios de registro de imóveis, cada um no seu foco, teriam que ter seus modelos de negócio repensados. O segundo é toda a cadeia de financiamento de imóveis. Considerando que os imóveis são o ativo mais utilizado em lastro no mercado financeiro atualmente, os modelos de empréstimos por meio de bancos também sofreriam mudanças expressivas com a “tokenização”.
O caminho para que cheguemos nesses cenários está sendo traçado e me parece uma questão de tempo para termos o seu principal fator de entrave, a regulação, resolvida. E com isso definido, o céu é o limite.
E você? Concorda com esse caminho? Já começou a experimentar comprar imóveis por meio de tokens?
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]]>The post Como a rede do real digital e a tokenização vai afetar nossas vidas appeared first on dragão e tigre.
]]>Com tudo que tenho visto, estudado e feito em Defi, CBDCs e real digital, segue uma tentativa de responder à pergunta mais frequente em muitas interações que tenho com pessoas que estão menos imersas no assunto: por que se fala tanto disso? Ou, visto de outra forma, o que mudará?
O jeito que consigo fazer isso é me transportar para o futuro e mostrar o que imagino ser o futuro pós implementação do real digital e como isso nos impactará. Hoje, tudo não passa de especulação e esse futuro pode não se concretizar. Mas não tenho dúvidas de que o caminho atual nos leva para esse cenário. Então, venha comigo nessa viagem.
Com a implementação de redes de blockchain em vários países, com interoperabilidade entre elas, e tudo, mas tudo mesmo, tokenizado e representado nessas redes, poderíamos, por exemplo, ter em uma única carteira, todas as nossas informações e investimentos. Como se fosse um acesso de uma fintech que hoje já pode usar o open finance do Brasil, mas a nível mundial. Como tudo estaria em blockchains interoperáveis, seria feito de uma forma mais fácil e auditável.
Imagine uma carteira na rede do real digital, na qual consigamos ter nossos saldos em moeda local (real tokenizado), todos os investimentos que tivermos (CDBs, títulos públicos, ações etc.) e os tokens de propriedade de ativos como o nosso carro, nossa casa, nossos relógios etc. Além disso, o sistema poderia ser expansivo, para termos nessa mesma carteira outros tokens de utilidade, como NFTs de cursos, POAPs [prova de participação em um evento], arte ou qualquer outra coisa que você possa imaginar.
Nesse cenário, a carteira vira o centro da nossa vida digital. Conseguindo provar que você é o dono, por meio de processos usando Zero Knowledge (ZK), no qual é preciso fornecer poucas (ou até nenhuma) informações sensíveis, você conseguiria ter acesso a empréstimos bancários, entrar na área vip do aeroporto, ter desconto no restaurante que sempre frequenta e muito mais. Tudo de uma forma fácil, transparente, segura e sem renunciar à sua privacidade.
Essa carteira poderia também conter dados da sua vida particular: tickets de viagens e ingressos de shows, diploma da faculdade, certidão negativa de débitos etc.
Ela viraria o seu “eu-digital”.
Essa rede e suas carteiras seriam responsáveis por toda liquidação e pagamentos, custodia, administração dos dados históricos, controle de acesso etc. Tudo feito por ela e, muito possivelmente, sem intermediários – ou pelo menos intermediários do que temos hoje.
O acesso a essas carteiras seria feito por meio de nossos celulares, de uma maneira tão segura e fácil como a forma pela qual acessamos nossas contas bancárias hoje. Eu conseguiria levar todos esses tokens comigo para onde eu quisesse. Na verdade, eles estariam comigo onde quer que eu os quisesse levar. Haveria também custodiantes de confiança (e regulados) que prestariam esse serviço para quem não se sentisse confortável com isso.
Para analisar o seu histórico de diabetes ou de colesterol seria preciso somente ver os tokens representativos dos exames históricos que você fez. Para saber se a pensão alimentícia foi paga é só acessar a carteira e ver se a transferência foi feita regularmente. Para saber os últimos proprietários de um imóvel é só ver por onde o token desse imóvel transitou na sua existência. Para saber quem foi no show do Imagine Dragons basta ver as carteiras que tem o NFT do ingresso do show. Para consultar seu programa de fidelidade do supermercado ou da companhia aérea que mais usa, é só checar os NFTs que tem nessa rede.
Já deu para perceber que essa rede, que começou com uma ideia muito mais financeira, já se expandiu para muito mais do que isso, tal qual o open banking, que começou com os bancos e hoje, no Brasil, virou open finance e engloba seguradoras, cambio e outras atividades. Ela vira a espinha dorsal de tudo o que fazemos.
Por meio de sua carteira nessa rede, que tem tudo tokenizado, você consegue trocar reais por dólares em instantes, usando uma plataforma descentralizada. Com esses dólares, é possível comprar um título do tesouro americano, também tokenizado. E tudo isso em um processo automatizado, de forma que você veria o preço do título público americano em reais (com todas as taxas incluídas).
Com um clique, o sistema executaria tudo o que é necessário para a transação. Tudo via DvP (delivery versus payment), que é uma formato automatizado, sem fricção e risco de contraparte.
Para quem já tem alguma familiaridade com cripto, o que descrevi até aqui poderia ser ilustrado de uma outra forma.
Imagine uma grande exchange centralizada que listasse todos esses tokens e na qual tivéssemos sistemas de KYC (“know your customer/client”) e compliance aprovados por todos os países. Ela seria o mercado de cambio e financeiro mundial. Ou até mais: poderia ser o mercado mundial de seguros, arte digital, negociação de ingressos etc. Todos os tokens que não fossem privados seriam negociados nela. As grandes exceções que vejo são dados de exames de saúde individuais, que estariam na registrados na rede, mas que teriam sua privacidade garantida por algoritmos de criptografia (ZK novamente?).
Outro fator que estaria resolvido seria a interoperabilidade. Isso porque, por meio de uma estrutura centralizada, ela faria a ponte para todos os sistemas locais de blockchain, financeiros ou não.
Outra forma de vermos é olharmos para trás e percebermos a evolução pela qual a blockchain passou desde que o Bitcoin surgiu. O que difere o que ilustrei acima do ecossistema da Ethereum? Já pensou sob esse prisma?
Essa grande rede mundial de blockchain, que pode ter várias nuances e formas de vermos, está em ebulição – e isso tende a se intensificar. Os desafios para chegarmos nesse futuro são grandes. Além disso, a transição não será linear e igual em todos os lugares.
Mas isso é assunto para outro momento.
E você, concorda com esse caminho? Ficou claro o que o que isso mudará na sua vida?
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]]>Nos últimos meses, a discussão sobre a rede Bitcoin tem sido intensa. Após anos de pouca inovação nessa rede, que parecia estar confortavelmente estável na posição da rede do “ouro” digital, surgiram novidades e discussões que reativaram questões sobre o real valor do Bitcoin e as narrativas que o sustentam.
A primeira narrativa, que já foi mencionada acima, é a de que o Bitcoin seria um ouro digital. O ouro da nova era, muito mais eficiente, fácil de armazenar e tão, ou mais, escasso que o ouro físico. Essa função do Bitcoin foi muito especulada e, durante alguns anos, a correlação entre o Bitcoin e o ouro corroborava com essa visão. Nos últimos trimestres, mais precisamente após o início de 2022, essa correlação começou a diminuir, e, em 2022, essa correlação praticamente não existiu.
Não vou repetir as vantagens de um ativo digital escasso, com custódia individual, fungível e com custo de transação e manutenção baixos em relação ao ouro físico. Embora, no caso do ouro, tenhamos criado no mercado financeiro títulos securitizados e derivativos que facilitam muitos desses pontos acima, a verdade é que obter ouro físico em barra, sem a necessidade de um intermediário, é uma tarefa quase impossível para valores um pouco maiores. Nesse sentido, o Bitcoin leva a vantagem.
Por outro lado, será essa narrativa sustentável no longo prazo? Se a rede Bitcoin for simplesmente utilizada como a rede de transação desse ouro digital, com o único objetivo de transferência de valor no tempo, ou seja, na ideia de comprar algo que pelo menos acompanhe a inflação, não estaria essa rede fadada ao insucesso? Explico.
Na minha humilde opinião, o que dá valor ao Bitcoin é a comunidade apaixonada que o vê como o melhor ativo do mundo e acredita que ele vai superar todos os outros ativos em termos de preço nos próximos anos. Essa comunidade, que inicialmente tinha muito dos conceitos de privacidade e de conseguir fazer algo fora do controle do Estado (sem nenhum viés meu aqui sobre se o Estado é bom ou ruim), passou hoje a ser muito mais ampla e com pessoas que têm objetivos e conceitos diferentes. No entanto, vários episódios recentes mostraram que o Estado conseguiu chegar a pessoas que utilizaram essa rede com objetivos escusos, o que indica que o argumento de privacidade, que era muito forte no início, perdeu força. Na verdade, temos aqui um caso de “pseudoprivacidade” e não de privacidade.
Bem, se o que dá valor ao Bitcoin é sua comunidade, vejo como uma necessidade de que essa comunidade continue sendo nutrida e continue recebendo indicações de que o Bitcoin é “o ativo”. No entanto, isso me parece inconsistente com o único caso de uso do Bitcoin.
Vale ressaltar que algumas decisões tomadas pela comunidade do Bitcoin também contribuíram para que a rede não se tornasse uma infraestrutura de pagamentos global. É claro que pagar por um café usando essa rede não seria um caso de uso viável, seja devido ao custo de transação ou ao tempo de registro dos blocos (a cada 10 minutos). A Lightning Network, uma camada secundária do Bitcoin, tem ajudado bastante nesse sentido e ganhado representatividade, mas, por não ter as stablecoins da rede Ethereum, tem ficado para trás quando se trata de transferência de valores.
É aqui que entra a questão dos inúmeros testes que começaram a ser feitos na rede Bitcoin nos últimos meses. Os “Ordinals”, que trazem o conceito de NFTs para a rede Bitcoin, têm sido o principal deles, e trouxe um aumento considerável no uso da rede e nas transações.
Há uma grande discussão sobre qual o caminho mais viável para trazer inovações para a rede Bitcoin. Uma das opções mais plausíveis é a situação dos mineradores da rede. Nos últimos trimestres, a situação deles não foi fácil, com o custo de energia aumentando muito e o preço do Bitcoin caindo. Muitos mineradores tiveram que fechar suas operações. O curioso é que o hashrate, a medida de quanto poder computacional a rede tem, só tem crescido, o que aumenta ainda mais a competitividade entre eles e requer uma necessidade ainda maior de gerar caixa. Os mineradores do Bitcoin têm duas fontes de receita: o prêmio em Bitcoin por cada bloco minerado e as taxas cobradas dos usuários da rede por transação. Portanto, quanto mais transações, mais receita para eles. Por isso, eles têm todo o incentivo para que a rede tenha mais casos de uso, novidades e inovações.
No entanto, essa direção não é isenta de obstáculos. Um dos que tenho notado é que, para criar os NFTs na rede Bitcoin, é necessário associar algo, como uma mensagem ou uma foto, a um dos satoshis (a menor unidade do Bitcoin). Isso cria um dilema interessante, uma vez que esse satoshi deixa de ser valorizado como um ativo fungível. É como se você tivesse uma nota de R$ 50,00 com a assinatura do Pelé. Ela deixa de ser uma nota comum de R$ 50,00 e passa a ter seu valor associado ao fato de ter a assinatura de um ídolo do futebol brasileiro. Agora, imagine se isso fosse feito em escala, todas as notas de R$ 50,00 teriam valores diferentes. É isso que está acontecendo com os “Ordinals” no Bitcoin, e isso traz um dilema entre fungibilidade e não fungibilidade.
Mais recentemente, está se consolidando a ideia de ter um padrão para o desenvolvimento de outros tokens na rede Bitcoin (BRC-20, em referência ao padrão ERC-20 da Ethereum), o que abre outra linha de discussão sobre a possibilidade de ter stablecoins e, por consequência, DEFI crescendo na rede do Bitcoin.
Essa busca por novos casos de uso para a rede Bitcoin me parece bastante tardia, e vejo muita discussão na comunidade sobre sua real necessidade. Será que o Bitcoin está flertando com a ideia de voltar a ser uma infraestrutura de pagamentos global? Ou ir além, tornar-se uma plataforma de inovação mundial, assim como a Ethereum? São questões que ficam em aberto.
Minha percepção é de que qualquer que seja o rumo que essa rede tome, exceto o de se consolidar como uma rede estável e confiável para transferência intertemporal de valores, isso tem que ser feito rapidamente, já que a consolidação da Ethereum como a principal infraestrutura de inovação da WEB3 já está muito à frente – e acelerando.
Se considerarmos que a vida em cripto é como a dos gatos, sete anos deles valem um para nós humanos, essa crise da meia-idade do Bitcoin vem tardiamente. Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca!
Long live Crypto! long live Bitcoin!
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Consultas usadas para esse texto:
Bitcoin’s Correlation to Gold Tightened in March Amid TradFi Woes (yahoo.com)
How to track Lightning Network transaction? Lightning Network explorer? : r/lightningnetwork (reddit.com)
What is Lightning Network in Bitcoin and How Does It Work? (101blockchains.com)
What are Bitcoin ordinals? (cointelegraph.com)
Bitcoin Ordinals Are The Next Big Thing In Crypto (forbes.com)
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]]>The post SEC dispara contra Binance e Coinbase appeared first on dragão e tigre.
]]>Na última semana, houve um aumento significativo na regulamentação das criptomoedas após a Securities and Exchange Commission (SEC), a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, abrir dois processos. Um deles foi contra a Binance e o outro contra a Coinbase, acusando-as, entre outras coisas, de negociar valores mobiliários (securities) sem a devida permissão desse órgão regulador.
A estruturação e distribuição de valores mobiliários é uma atividade regulamentada em todo o mundo. Cada país possui seu próprio órgão regulador e conjuntos de regras, que têm como objetivo principal proteger os investidores.
Para isso, as regulamentações geralmente classificam os investidores em diferentes tipos, levando em consideração seu conhecimento financeiro ou capacidade de buscar assessoria adequada. Na maioria dos países, essa classificação é baseada no valor investido. Por exemplo, na Europa e nos Estados Unidos, investidores que possuam mais de US$ 100.000 disponíveis para investir (ou valor equivalente na moeda do país) são considerados investidores com capacidade financeira suficiente. Isso permite que o órgão regulador estabeleça algumas barreiras e permita que sejam oferecidos investimentos a eles sem que o ofertante ou estruturador tenha que passar pelo processo padrão.
No Brasil, temos uma classificação em três tipos: investidor comum, investidor qualificado e investidor profissional. Entre outros critérios, o valor investido também é considerado para a classificação. Qualquer valor é aceito para investidor comum, acima de R$ 1 milhão para investidor qualificado e acima de R$ 10 milhões para investidor profissional.
Essa segmentação visa, essencialmente, proteger o pequeno investidor, assumindo que ele possua menos conhecimento financeiro, para evitar que sejam oferecidos investimentos que possam comprometer sua reserva financeira. Por outro lado, há uma perspectiva menos difundida de que essa segmentação visa criar uma reserva de mercado exclusiva para os investimentos considerados “melhores”, disponíveis apenas para aqueles que já possuem recursos financeiros. Essa perspectiva sugere que essa estratégia busca perpetuar as diferenças entre as classes sociais.
Eu sempre estive mais alinhado com o primeiro objetivo mencionado anteriormente, de proteger os investidores pequenos. No entanto, devo admitir que cada vez mais questiono o segundo objetivo. A tokenização e a tecnologia blockchain estão facilitando e continuarão a facilitar a pulverização de investimentos, tornando possível investir com quantias menores. Anteriormente, muitos investimentos exigiam poucos investidores e valores altos para serem realizados, mas agora eles estão se tornando acessíveis a milhares de investidores com tickets menores. Essa mudança está desafiando a ideia de que apenas os investidores com recursos significativos podem ter acesso aos melhores investimentos.
Enquanto isso, o que se observa é que os reguladores estão se esforçando para manter ou adaptar o sistema de proteção dos investidores pequenos que temos atualmente.
Será realmente necessário ter um arcabouço tão amplo e limitante de proteção?
Um ponto importante nessa divisão de investidores diante da classificação de valor mobiliário é que, assim que um ativo seja classificado como tal, o seu distribuidor (vendedor do ativo) tem que cumprir inúmeras regras e registros para poder fazê-lo. Essas regras são mais rigorosas para os investidores comuns e menos rigorosas para os investidores considerados qualificados (e profissionais, no caso do Brasil).
Sobre o episódio mais recente, a ação da SEC contra a Binance e Coinbase, temos uma questão que me desagrada ainda mais, que é a de um regulador que se vê pressionado a agir. As críticas à SEC e ao seu chairman, Gary Gensler, após a quebra em novembro de 2022 da exchange de criptomoedas FTX, foram imensas. Por que ele não regulou isso? Como permitiu que os americanos perdessem milhões nessa fraude? Ele não previu que isso aconteceria? Essas e outras questões continuam sendo levantadas até hoje quando o assunto é discutido.
Além disso, durante 2023, houve uma enorme pressão para que a SEC se pronunciasse e estabelecesse diretrizes para os inúmeros empreendedores que desejam inovar nesse mercado nos EUA. Inclusive, vários Venture Capitalists (VCs), como a A16, emitiram relatórios abordando o êxodo de iniciativas cripto dos EUA devido à falta de clareza regulatória.
Diante desse cenário, o que ocorreu foi que a SEC, sob pressão, se pronunciou. O ponto é que o pronunciamento não foi favorável para nenhuma das partes envolvidas.
Ao classificar mais de 50 tokens como valores mobiliários, a SEC aplicou a regulamentação do mercado financeiro tradicional a esses ativos, afetando o acesso dos investidores comuns nos Estados Unidos. Em outras palavras, todas as iniciativas que distribuíram esses ativos deveriam ter seguido as diversas regras estabelecidas pela SEC ou obtido uma autorização explícita dela para evitar a necessidade de cumprimento dessas regras. No entanto, ambos os caminhos são inviáveis devido ao tempo e aos recursos financeiros necessários para cumpri-los.
Após ter sido citada no processo, a Binance emitiu um comunicado contundente, no qual afirma que a abordagem regulatória baseada em punição (regulation by enforcement) não é a melhor estratégia a ser adotada e que o objetivo da SEC com esse processo parece ser mais chamar a atenção da mídia do que proteger os investidores.
Uma das visões sobre esse processo, bem desenvolvida por Ícaro Avelar em uma live que fizemos na semana passada, é que a SEC, por meio desse processo, está começando a transferir parte de suas responsabilidades para o Poder Judiciário dos Estados Unidos. Em certo sentido, parece que a SEC está cumprindo seu papel e deixando para o Judiciário decidir da maneira que melhor entender. Essa estratégia pode ser compreensível do ponto de vista tático (à la série “Billions”, concordemos), mas, do ponto de vista do mercado cripto e da inovação, não parece ser a melhor para os Estados Unidos. Porém, continuando na linha dessa série ou de “House of Cards”, o ego nesse nível de poder é enorme. Muitas vezes isso leva a decisões e direções que não são ótimas para a população em geral.
Estamos apenas no início das discussões sobre a regulamentação de criptomoedas e tokens para o mercado americano, e é preocupante observar que o rumo dessas conversas não está promovendo um maior entendimento. O fato de não haver um diálogo construtivo em si já é um sinal negativo.
Egos, pressão para agir, gestão baseada em conflitos crescentes, juntamente com discussões mais profundas sobre o verdadeiro papel dos reguladores nesse mundo em que a tecnologia oferece inúmeras oportunidades para todos, independentemente do valor que se tenha para investir, compõem o enredo dessa série da vida real que estaremos acompanhando nos próximos anos. Será que terá um desfecho que seja benéfico para todos ou apenas para alguns poucos? Essa é a pergunta para a qual espero uma resposta positiva: será bom para todos!
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Consultas feitas para esse artigo:
O que são os tipos de investidores profissional, qualificado e não residente?
SEC já enquadrou 71 criptomoedas como valores mobiliários; especialistas explicam que risco isso representa
SEC Complaint Aims to Unilaterally Define Crypto Market Structure
Por favor, regulem o Bitcoin
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]]>Duas dinâmicas, no mercado cripto e no mercado financeiro tradicional (TradFi), estão ocorrendo e levam ao mesmo destino: uma maior integração entre o mercado cripto e o TradFi. As dinâmicas e movimentos de ativos e tecnologias são muito influenciados pelas narrativas que se constroem em torno de algumas teses e hoje vejo narrativas nos dois mercados, cripto e TradFi, muito similares. Explicarei.
Umabuzzword, ou palavra mais falada hoje no TradFi em relação à tecnologia, logo após “inteligência artificial”, é “tokenização”. Seja nas discussões do Real Digital, onde temos o real tokenizado e títulos públicos tokenizados, ou nas discussões sobre fundos, recebíveis ou até ativos imobiliários, o tema da tokenização está sempre presente. Não há discussão sobre inovação nesse setor que não aborde esse tema pelo menos superficialmente.
Esse movimento não começou agora. Para aqueles que me acompanham na Fintrender, isso vem sendo discutido e trazido há mais de três anos. O mercado financeiro tradicional claramente viu na Blockchain uma forma de ser mais eficiente e está começando a implementar projetos. O movimento está em andamento. E para isso, é importante construir uma infraestrutura de mercado que suporte esse tipo de inovação. E é aqui que podemos nos orgulhar de sermos brasileiros e estarmos impulsionando essa inovação no mundo. O piloto do Real Digital é exatamente para isso, criando uma infraestrutura onde esses tokens possam ser negociados.
Os experimentos com tokenização hoje estão dispersos em relação às redes (infraestruturas), o que dificulta a interoperabilidade e padronização. Um desenvolvimento na rede da Avalanche, por exemplo, tem dificuldades de se comunicar com outro ativo que esteja na rede da Ethereum. Isso é apenas um exemplo de duas redes de Blockchain não-permissionárias que são compatíveis EVM. Agora, imagine quando adicionarmos a isso as redes/infraestruturas do mercado financeiro tradicional. A complexidade aumenta ainda mais. Quando tivermos uma rede única de TradFi que suporte tokens, imagine o que acontecerá. Esse é um dos objetivos do Real Digital.
Bem, se a tokenização no TradFi será a forma de trazer essa tecnologia “cripto” para dentro do mercado financeiro tradicional, do lado cripto há outra narrativa no DEFI que vai no sentido contrário, trazendo o TradFi para o mundo cripto. Essa narrativa é conhecida como RWA (Real World Asset).
O principal expoente dessa narrativa é uma plataforma chamada Ondo.Finance. Ela está trazendo investimentos do TradFi para o mercado cripto. Seu principal produto é um token que representa um ETF de títulos públicos americanos de curtíssimo prazo (iShares Short Treasury Bond ETF – NASDAQ: SHV). O volume desse token ainda é mínimo, cerca de US$ 100 milhões, e o total de RWA registrados pela DefiLlama não passa de US$ 400 milhões. O segundo expoente desse setor é a RealT, que traz para o mercado cripto tokens de imóveis.
No caso de iniciativas como a Ondo, ela vem para corrigir distorções existentes na ponte entre o DEFI e o TradFi, ou seja, arbitrar as taxas desses dois mercados. Até 2021, havia uma “taxa de juros” para investimentos em stablecoins (USDC e USDT) muito mais alta no cripto do que se conseguia em USD no TradFi. Com o aumento dos juros americanos e a diminuição do volume e das iniciativas em DEFI nos últimos semestres, essa situação se inverteu. Hoje, é possível investir em títulos públicos americanos de curtíssimo prazo com taxas próximas a 4,5% ao ano, enquanto as aplicações em stablecoins via AAVE, Compound, etc., estão rendendo algo entre 2,5% e 3% ao ano. É claro que essa arbitragem não é exata e os dois mercados têm riscos diferentes, mas o que a Ondo faz é permitir que isso seja feito, e cabe a cada agente decidir qual diferencial de risco entre os dois mercados deve ser considerado, seja de 5%, 2% ou 0% ao ano.
Enquanto esses dois mercados funcionarem como dois lagos que não se comunicam, as taxas podem ser muito diferentes entre eles. À medida que encontramos formas de comunicação entre os dois, temos mais liquidez e melhores maneiras de entender as diferenças de risco de cada lado e precificá-las de maneira mais adequada.
Ao observar as discussões que estão ocorrendo em ambos os lados, cripto e TradFi, é incrível como a narrativa e a dinâmica, embora não sejam as mesmas, têm uma meta em comum: tokenizar tudo. Chame isso de tokenização de ativos no TradFi ou RWA no cripto, o objetivo é exatamente o mesmo.
Isso me dá a certeza de que esse é um caminho realmente irreversível. A discussão pode ser relativa ao prazo desse processo, sobre o qual não me arrisco a opinar, mas não em relação à direção que estamos tomando.
A pergunta que surge é qual é o nosso papel nisso tudo. De que lado da ponte estamos? Do lado do TradFi ou do cripto? Participaremos ativamente da construção dessa ponte ou simplesmente esperaremos até que ela esteja pronta para colhermos seus frutos?
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]]>The post Real Digital: necessário ou inevitável? appeared first on dragão e tigre.
]]>Muito tenho discutido sobre as vantagens, casos de uso, necessidade de privacidade e como manter isso com a componibilidade necessária no Real Digital e acabo indo muito fundo nessas discussões e de tempos em tempos se faz necessário sair de olhar as árvores e voltar a ver a floresta e é isso que pretendo fazer aqui.
A digitalização da moeda é um fenômeno inevitável. Nós utilizamos carteiras digitais para pagamentos há muito tempo. Dinheiro físico cada vez mais fica restrito a pequenos comércios que ainda não se digitalizaram, tais como alguns cafés e coisas de valor pequeno, e olha que até aí o PIX tem entrado com força e em muitos casos já há formas de pagar caso você não tenha dinheiro físico.
Essa digitalização pode ser feita nas arquiteturas atuais, tendo por base os cartões de crédito e débito, como é muito comum no ocidente ou via plataformas como WeChat e alipay no caso da China por exemplo. Mas também pode ser feita via uma nova arquitetura/plataforma de sistema financeiro que utilize de alguma forma Blockchain ou DLT. No caso dessa segunda temos algumas vantagens como o sistema de envio de mensagens e dinheiro (tokens no caso) sendo o mesmo, maior auditoria das transações, possibilidade de operações entre pessoas direto (peer to peer) de maneira mais fácil, programabilidade e composição com vários casos de uso que envolvam pagamentos, serviços e custódia, entre outros.
O surgimento dessa nova infraestrutura de sistema financeiro, que tem seus primórdios nas plataformas de cripto intituladas de DEFI (decentralized finance) tem um potencial enorme de deixar os sistemas financeiros nacionais e mundial muito mais eficientes e integrados. Hoje, por mais que tenhamos uma certa conexão entre os sistemas financeiros nacionais com outros países, essa conexão está longe de ser otimizada. Mesmo na zona do Euro, onde todos os países têm a mesma moeda, cada um tem o seu sistema de pagamentos instantâneo e eles não se conectam. Um DLT mundial pode vir a forçar esse padrão, à medida que todos começem a usar o grande padrão que cripto criou que é conhecido como EVM (ethereum Virtual Machine).
E é aqui que entra o Real Digital. Sendo a digitalização da moeda uma coisa inevitável, é na programabilidade e nessa nova infraestrutura que o Real Digital se baseia para ir além. Inúmeros casos de uso podem surgir com potencial enorme. Durante esse episódio do Tokenfi, o João Pirola, da AmFi, trouxe alguns bem interessantes para quem quiser entender melhor esses casos.
Hoje é consenso colocar no lançamento da Libra pelo Facebook em 2018, a pedra fundamental para abrir os olhos dos Banco Centrais em direção a essa nova arquitetura de sistema financeiro. Independentemente da Libra não ter conseguido sair do papel, o bem que ela fez para o mundo foi imenso. Tudo isso que estamos vendo hoje teria acontecido sem ela? Muito provavelmente sim, mas ela acelerou muito o processo dos Bancos Centrais.
Uma discussão curiosa é a sobre o papel dos Bancos Centrais nas economias atuais. Se pegarmos nos livros que elencam as funções de um Banco Central (BC), prover sistemas ou infraestrutura de mercado não aparecem, mas, à medida que temos a moeda digitalizada, o controle sobre isso vira um dos pontos chave da atuação dos BCs. Os casos da Suécia e da China e o movimentos dos seus BCs em busca de um sistema onde consigam ter o controle e visualizar as transações exemplificam isso.
Voltando à questão que me propus responder, para mim a digitalização da moeda é um caminho sem volta, inevitável, e isso leva à segunda parte da pergunta. Qual o melhor sistema para se fazer isso?
Aqui minha opinião é de que não há arquitetura melhor no mundo para isso do que a arquitetura criada por cripto. Redes de blockchain são infinitamente mais eficientes do ponto de vista de auditoria, transações peer to peer, possibilidade de se realizar trocas atômicas (dvp) entre outras coisas. Mas nem tudo é perfeito. Elas ainda pecam, ou tem escolhas a serem feitas, quando os pontos são privacidade e escalabilidade. Vejo esses dois últimos pontos como escolhas e não impossibilidades.
Quem já opera em cripto há muitos anos consegue ver isso com clareza. Apesar de temos um UX em cripto ainda ruim, a eficiência com que se consegue transferir valores, custodiá-los e controlá-los é muito maior do que os sistemas do mercado financeiro tradicional. Para ser justo, PIX chega bem perto e tem uma UX muito melhor, mas serve somente para transferências de valores em Reais e no Brasil, não englobando compra de ativos, investimentos, empréstimos etc.
Então, quando me deparo com a pergunta: O Real Digital é necessário ou inevitável, minha resposta não poderia ser outra: os dois. Uma nova infraestrutura do mercado financeiro brasileiro é inevitável e o que traz a necessidade de que seja feita o quanto antes para que o Brasil continue na vanguarda do desenvolvimento do mercado financeiro mundial.
Uma das frases que mais gosto de dizer é a que hoje, via tecnologia, conseguimos fazer tudo o que já fazemos de um modo mais eficiente e no caso de um sistema financeiro isso não é diferente. Que venha o inevitável e necessário Real Digital o quanto antes!
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